
Ano 2 | Março de 2025
OURO PRETO RESTAURA TEMPLO COM OBRAS DE ALEIJADINHO E ATAÍDE

Até pouquíssimo tempo atrás, o destino da igreja histórica, construída entre 1771 e 1793 em honra ao Bom Jesus de Matosinho e São Miguel e Almas, em Ouro Preto, parecia incerto. Este magnífico templo, que ostenta em sua fachada uma escultura atribuída a Antônio Francisco Lisboa e, no interior, pinturas de Manuel da Costa Ataíde, foi interditado às pressas em 2014 para evitar uma tragédia.
De lá para cá, foi preciso improvisar um escoramento em sua portada, onde a escultura em pedra-sabão atribuída ao Mestre Aleijadinho agonizava, trincada. No adro da igreja, outro escoramento manteve de pé outro monumento, um chafariz esculpido em pedra do Itacolomi com uma inscrição com a data de sua construção: 1763.
A mobilização
Mesmo com os recursos para a restauração aprovados pelo governo federal, várias questões impediram por dez anos o início das obras e, com a demora, a verba liberada quase se perdeu. A situação só começou a mudar recentemente, graças à união de esforços da comunidade em conjunto com a Prefeitura de Ouro Preto e entidades de preservação do patrimônio histórico. Essa mobilização resultou, em julho deste ano, no início do das obras na Igreja. Felizmente, ainda em tempo, pois os problemas estruturais da edificação surpreenderam até a própria equipe de restauradores, pois não apenas a fachada, mas toda a estrutura corria risco de desabar a qualquer momento.
A Revista Mundaréu registrou o início das obras na Igreja do Bom Jesus (setembro 2024) . Confira as imagens:

Foto: Revista Mundaréu - Setembro 2024

Foto: Revista Mundaréu - Setembro 2024

Foto: Revista Mundaréu - Setembro 2024

Foto: Revista Mundaréu - Setembro 2024
Poucos meses atrás, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) firmou um Termo de Compromisso com a Prefeitura de Ouro Preto para o restauro, que faz parte do “Novo Programa de Aceleração do Crescimento”. Inicialmente, serão investidos, cerca de R$ 4 milhões em obras estruturais para garantir a integridade do monumento: reforma do telhado, reforço da estrutura da edificação, esquadrias, alvenarias, sistema de drenagem, pisos, forros, estrutura do muro frontal e do muro lateral. Um projeto de contensão da encosta localizada no entorno do monumento e a recuperação do chafariz e do adro são intervenções que também deverão ser executadas, posteriormente. No projeto, o portão principal, que chegou a ser alterado para atender as demandas de um colégio que funciona ao lado, retornará ao seu local origem, ou seja, em frente à Igreja. Por fim, depois das obras estruturais, Por fim, após as intervenções necessárias para garantir a estabilidade física da estrutura, será feita a recuperação dos elementos artísticos: esculturas, pinturas, ornamentos e todos os elementos de valor histórico e artístico. A previsão de conclusão das obras na Igreja do Bom Jesus é de cinco anos, ou seja, em 2030.
O incidente que quase levou o pároco ao encontro com o Criador
Delcia Maria do Carmo Soares, conhecida por todos como Dona Dó, tem 93 anos e frequenta a igreja do Bom Jesus desde criança. Ela estava presente quando ocorreu o primeiro sinal de um possível desabamento:
“Um dia o padre estava celebrando a missa e ele gostava de conversar com o povo. Ele desceu para o meio da igreja para conversar com o pessoal e, nessa hora, caiu uma telha de uma altura danada que passou raspando nele, assim. O padre Marcelo, que também estava lá, falou - não pode não, gente, não pode, quase que nós perdemos o padre aqui! E mandou fechar a igreja.”

Dona Dó participou ativamente da luta para salvar a igreja e contou pra gente os combinados da comunidade com as autoridades sobre os trabalhos de restauração.
“A gente pediu pessoas de Ouro Preto trabalhando, porque não adianta trazer gente de fora, que não sabe nada da igreja, só para colocar dinheiro no bolso e depois ir embora. Isso nós conseguimos, na hora, veio até uma filha do doutor Celso, morador do Rosário. E eles até falaram que estavam felizes de estarem ali e que dariam o sangue pra fazer o serviço.”
Dona Dó já antecipou até os planos para a primeira Festa do Bom Jesus depois da reinauguração:
“ Na festa, quando a igreja voltar a funcionar, vai ter pastel, vai ter caldo, vai ter qualquer tipo de salgado. As barraquinhas, nós vamos fazer uma para os escoteiros, outra para o pessoal do catecismo, pra todo mundo que quiser ajudar! Ah, eu ainda quero receber a benção do Senhor Bom Jesus lá dentro, na Igreja restaurada.”
AGRADECIMENTOS: SARA SOARES