
Ano 2 | Março de 2025
Minas e o resgate do trem da história

Fotos: Ane Souz_2024
Em Minas, trem é música, poesia e saudade. No imaginário do mineiro, trem é tudo. Por isso é tão importante preservar nossas antigas estações, monumentos sobreviventes da rede ferroviária, lugares carregados de histórias dos tempos em que os trilhos levavam alegria e prosperidade às vilas e pequenas localidades.
Atenta à importância dessa tradição, a Holofote Cultural, de Itabirito, criou e agora conduz os projetos de restauração de duas estações ferroviárias valiosas. A primeira, em Engenheiro Corrêa, distrito de Ouro Preto, com patrocínio da J. Mendes e Herculano, e a segunda, no município de Moeda, com patrocínio MRS Logística.
Moeda: Um Chalé de Recordações
Inaugurada em 1919, a Estação de Moeda traduz em linhas e formas o espírito de sua época. Com sua arquitetura que evoca os chalés europeus e pinceladas neoclássicas, é mais que uma edificação: é uma testemunha de um passado que se faz presente. Tombada como patrimônio cultural, sua plataforma isolada, jardins e chafariz são guardiões de histórias que pulsaram em sua paisagem urbana.
A restauração da estação de Moeda é um gesto que vai além da preservação. É um ato de fé na memória coletiva, um reconhecimento de que a cultura de um povo está presente nas estruturas que ergueu e nas histórias guardadas entre paredes.
Para Gilson Fernandes Antunes Martins, diretor executivo da Holofote, "a preservação de edificações centenárias valoriza a história e a memória afetiva das comunidades. Esses símbolos não são apenas vestígios físicos do passado, mas representações de identidade cultural."

Assinatura da ordem de serviço para início das obras de restauro da Estação Ferroviaria de Moeda, MG
Engenheiro Corrêa, memórias no Jardim da História

Assinatura da ordem de serviço para início das obras de restauro da Estação Ferroviaria de Engenheiro Corrêa, MG
Construída em 1896, a Estação de Engenheiro Corrêa, em Ouro Preto, era chamada de Estação Sardinha, mas ganhou o nome atual em homenagem ao engenheiro Manoel Francisco Corrêa Júnior, que teve um destino triste perto dali. Ele morreu em um desastre no km 514 da ferrovia que trabalhava.
Esta estação não era apenas um ponto de passagem, mas um espaço de encontros e vivências. Com um pequeno jardim, uma fonte e bancos, era frequentada por moradores locais de Amarante, Casa Branca e Bação, sendo cenário de amizades, romances e da intensa movimentação ferroviária de passageiros e cargas.
Com a restauração em andamento, o projeto visa não apenas recuperar sua estrutura física, mas também resgatar seu papel histórico e cultural. A contrapartida social é o programa "Estação de Memória", que receberá semanalmente professores e alunos para vivências educativas no local, promovendo a valorização da história ferroviária mineira.
Caminho de Ferro
Hoje, sobre os trilhos que cortam Minas, a Maria Fumaça já não canta mais. Mas o eco distante de seu apito atravessou o tempo e ainda nos faz lembrar de um passado que não pode ser esquecido.
Esses projetos, além de preservar o patrimônio ferroviário mineiro, convidam as novas gerações a se reconectarem com as histórias que nos definem. Cada tijolo restaurado e cada detalhe resgatado devolvem vida a espaços que foram palco de encontros, despedidas e mudanças.
Hoje, ao visitarmos as estações silenciosas, ainda sentimos o convite para embarcar no trem da história, carregado de sentimentos que fizeram de Minas o que ela é.
