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Ano 2 | Abril de 2025
Milton Nascimento e Wagner Tiso: A sabedoria que vem das montanhas
Por Victor Stutz - Revista Mundaréu, 11 de abril de 2025


Dois Músicos mineiros são contemplados com o título de Doutor Honoris Causa, em reconhecimento à contribuição intelectual, artística e transformadora de suas obras para a cultura brasileira e o saber universal.
Há algo de misterioso entre as montanhas de Minas. É como se a terra tivesse um compasso próprio, que ensina sem pressa, sem alarde e, em alguns casos, sem passar por cátedras formais. Em vez disso, educa pelo afeto, pela escuta, pela memória – e pela arte. E talvez por isso não cause surpresa que, em tempos recentes, dois dos maiores nomes do Clube da Esquina tenham sido agraciados com o título de Doutor Honoris Causa, um reconhecimento que valida a genialidade musical desses dois filhos da mineiridade mais autêntica.
Milton Nascimento: uma travessia consagrada
Os primeiros meses do ano têm sido especialmente gratificantes para Milton Nascimento. Depois de ser homenageado pela Portela no carnaval do Rio, indicado ao Grammy com seu documentário e reverenciado por todos os cantos por onde passou, Bituca recebeu outro reconhecimento: o título de Doutor Honoris Causa da Unicamp, uma das mais prestigiadas universidades do país. A cerimônia oficial, realizada em 10 de abril, selou o que já estava gravado na história – a importância intelectual e cultural de um artista que sempre deu voz ao grito silencioso de seu povo.
Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, Milton foi criado desde pequeno em Três Pontas, no Sul de Minas, onde aprendeu, entre amigos, o segredo da sabedoria criativa que ronda as montanhas. Receber agora o título da Unicamp é apenas a comprovação de que o conhecimento não se mede por diplomas, mas por notas que reverberam na alma das pessoas.
Wagner Tiso: o maestro da memória musical
Do mesmo chão que moldou Milton, brotou também Wagner Tiso: pianista e maestro, arranjador e arquiteto da paisagem sonora. Tiso foi o primeiro homenageado com o título de Doutor Honoris Causa pela UNIFAL-MG, em 28 de março, nas comemorações pelos 20 anos da universidade como instituição federal. A cerimônia ainda será realizada em Alfenas, cidade que ele próprio ajudou a escolher para a nova morada da família, por enxergar ali não apenas futuro, mas cultura e música.
Sua trajetória atravessa seis décadas de composições, trilhas, shows e gravações com os maiores nomes da música brasileira e internacional. Mas é em sua fala sobre os “bailes da vida” que está a essência do aprendizado que os títulos acadêmicos agora reconhecem: a sabedoria adquirida e transmitida nos palcos, nos bastidores, nos ensaios – e nos encontros ao pé do piano da mãe.
Três Pontas: berço de sabedoria sensível
Milton e Wagner, dois meninos que cresceram próximos em Três Pontas, tornaram-se doutores de um saber que ultrapassa as fronteiras acadêmicas. A mineiridade que compartilham não está apenas na geografia; está no olhar, na escuta e na harmonia que brota entre o som e o silêncio. Eles aprenderam com as águas dos riachos que escorrem das montanhas e descem até os quintais – e devolveram tudo isso ao mundo em forma de música.
Essas homenagens não são apenas títulos: são a confirmação de que há um tipo de inteligência que nasce do chão – do chão mineiro. Uma sabedoria que não se impõe, mas acolhe. Que não grita, mas canta. Que não ensina, mas encanta.