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Ponte do Rosário: Uma Paisagem Interrompida

Ponte do Rosário, ou ponte do Caquende

Em Ouro Preto, a Ponte do Rosário é uma das joias arquitetônicas do período colonial brasileiro. Ela resiste como testemunho silencioso sobre as águas do córrego do Caquende, que também lhe empresta o nome.

A ponte de pedra, em arco pleno, foi construída em 1753 e teve como arrematante Antônio da Silva Herdeiro, um profissional de destaque no cenário construtivo mineiro que, segundo registros históricos, figurou em pelo menos dois momentos ao lado de Manoel Francisco Lisboa, pai do célebre Aleijadinho. Na época, o papel de um arrematante era crucial: cabia a ele a responsabilidade de assumir e executar a obra dentro dos padrões estabelecidos, desde a organização de recursos até a entrega final, um reflexo da alta confiança em suas habilidades.

Situada no bairro do Rosário, na Rua Bernardo Guimarães, a Ponte do Caquende é um testemunho de muitas caminhadas e chegou a ser exaltada nos versos de Tomás Antônio Gonzaga, em Marília de Dirceu, como um marco poético do trajeto cotidiano do poeta inconfidente. O monumento, que combina utilidade e beleza, preserva em suas pedras as memórias de uma vila próspera e rica. É um dos marcos arquitetônicos que integram o conjunto que fez de Ouro Preto um patrimônio cultural.

Foto/arquivo

Ponte do Rosário - Óleo s/ tela  de Diogenes Sodré - 1970

Porém, se Antônio da Silva pudesse retornar ao presente, certamente se entristeceria ao perceber que a paisagem romântica que um dia rodeou sua obra foi totalmente engolida por construções recentes e inexpressivas. Hoje, uma garagem na Rua Benedito Valadares obstrui a principal vista do monumento. O caixote de tijolos foi construído ao pé do conhecido Beco dos Bois e  ousa sufocar o arco da ponte, que apesar de conservado, parece agonizar sobre as águas imundas do córrego.

Nos últimos tempos, a passagem sob a ponte é utilizada apenas como atalho pelos moradores locais, que dependem de uma estreita passarela de concreto, bem ao lado da boca da garagem, para acessar o caminho. E ali, todos prendem a respiração por causa do cheiro insuportável, e a paisagem original também permanece sufocada e distante de novos visitantes, que perdem a oportunidade de apreciar sua história e importância.

Construção recente interrompe a vista para a ponte histórica

Vista da ponte interrompida por garagem grafitada, na Rua Benedito Valadares, no Rosário, no caminho que dá acesso ao "Beco dos Bois"

A Revista Mundaréu é a primeira revista digital de Cultura de Ouro Preto, MG

Fundo da garagem e passarela de concreto sobre o Córrego do Caquende

A Ponte do Rosário, ou Ponte do Caquende, clama por olhares que valorizem sua história e restaurem sua presença no cenário colonial. Olhares sensíveis e mãos habilidosas possam resgatá-la do esquecimento. Só assim a paisagem deslumbrante, que certamente, ao longo do tempo, inspirou muitos poetas, pintores, trovadores, namorados e seresteiros, poderá ser novamente celebrada.

Vamos aguardar e torcer para que essa parte do legado que Ouro Preto carrega, escondida em uma de suas áreas mais encantadoras, seja revelada e revisitada, um dia.

Garagem no rosário
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