
Ano 2 | Março de 2025


A Revista Mundaréu, primeira Revista Digital de Turismo, Cultura e Artes da Região dos Inconfidentes, passa a operar em rede com o site da jornalista Valéria Monteiro, em São Paulo. Com essa parceria, a arte e a cultura de Minas Gerais ganham a interlocução de uma das mais renomadas profissionais do jornalismo nacional — a jornalista que fez história ao quebrar paradigmas nos telejornais da TV Globo entre 1986 e 1993. Primeira mulher no elenco de apresentadores do Jornal Nacional, Valéria foi apontada, em 1992, como a jornalista de maior credibilidade da TV brasileira pelo Instituto DataFolha.
Valéria Monteiro nasceu em Belo Horizonte, MG, e ficou conhecida por mudar paradigmas na apresentação da maioria dos telejornais da TV Globo, na maior rede de TV da época entre anos de 1986 e 1993. Foi a primeira mulher no elenco de apresentadores do Jornal Nacional; apontada em 1992 como a jornalista de maior credibilidade da TV brasileira pelo Instituto Data Folha.

As mulheres (in)visíveis da Inconfidência Mineira
Valéria Monteiro para Revista Mundaréu
11 de Março de 2025
Março chegou, e com ele o mês das Mulheres. Aproveitando também a nova parceria do site com a revista Mundaréu, achei mais do que justo dedicar este espaço a contar um pouco sobre as mulheres que estiveram envolvidas — direta ou indiretamente — na Inconfidência Mineira. Essas histórias raramente ganham destaque, mas merecem (e muito!) ser lembradas.
Quando a gente pensa na Inconfidência, logo vem à mente Tiradentes: a barba, a forca, o discurso pela liberdade. Mas e as mulheres? Onde estavam? O que viveram, o que sentiram, enquanto seus companheiros, filhos, pais ou irmãos conspiravam contra o domínio português?
A verdade é que a história sempre deu mais palco pros homens. As mulheres, como em tantos outros momentos, foram jogadas para os bastidores. Mesmo assim, estavam lá. Resistindo, amando, sofrendo e, muitas vezes, agindo com uma coragem que ninguém ensinou nos livros da escola.
Sebastiana e as outras
Quase ninguém fala da Sebastiana, amante de Tiradentes e mãe de sua filha. Não está nos livros didáticos, mas existiu. Imagina viver à sombra de um homem que virou herói ou traidor, dependendo de quem conta a história. Como foi pra ela criar uma filha com esse peso? Enfrentar o julgamento silencioso (ou nem tanto) das pessoas ao redor? Essas perguntas ficam no ar, mas o silêncio também fala.
Ou então a Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, mulher forte que apoiou financeiramente a Inconfidência. Ela não estava ali só como expectadora — se envolveu de verdade. Como tantas outras, desafiou o que se esperava de uma mulher da época e pagou o preço.
Porque sim, as mulheres da Inconfidência também foram punidas. Só que de formas menos visíveis. Suas dores foram ignoradas, seus nomes esquecidos, seus atos de coragem varridos pra debaixo do tapete da história. Enquanto os homens tiveram seus nomes gravados em praças, avenidas e monumentos, elas ficaram no esquecimento — e isso também é um tipo de castigo.
E mesmo hoje, pra sermos reconhecidas, parece que ainda temos que ser Joanas d’Arc — sofrer, resistir, provar mil vezes nosso valor. E quando enfim nos aplaudem, é como se fosse um prêmio por termos sobrevivido ao fogo. Mas essa conversa fica pra um próximo post.
Por enquanto, que fique claro: as mulheres estavam lá. E seguem aqui.
Se você também acredita que a leitura pode abrir caminhos e nos ajudar a enxergar melhor o mundo (e a nós mesmas), deixo aqui uma dica valiosa: o livro Independência do Brasil – As mulheres que estavam lá, organizado por Heloísa Starling e Antônia Pellegrino, publicado pela editora Bazar do Tempo. São histórias de figuras como Bárbara de Alencar, Maria Felipa de Oliveira, Maria Quitéria, Dona Leopoldina, entre outras. Mulheres incríveis, corajosas, inspiradoras.
A gente precisa aprender a se ver na história. A reconhecer as que vieram antes, a entender nosso papel agora, e a deixar espaço pra quem ainda vai chegar. Só assim vamos mudar, de verdade, o reconhecimento das mulheres que foram, que são e que serão — nossas heroínas.
>>> Leia também, no site da Valéria: Oito de Março: Celebração, Reflexão e Ação

A Diáspora Mineira: Entre a Saudade e a Reinvenção
Valéria Monteiro para Revista Mundaréu
06 de Março de 2025
Minas Gerais sempre foi um estado de partida. Desde os tempos do ciclo do ouro, quando aventureiros seguiam para outras terras em busca de novas riquezas, até os dias de hoje, em que os mineiros saem de suas cidades em busca de oportunidades, seja no Brasil ou no mundo. A diáspora mineira não é um fenômeno recente, mas continua a moldar identidades e a criar laços entre Minas e os muitos destinos de seus filhos espalhados pelo globo.
Minha família faz parte dessa história. Eu moro em Campinas, no interior de São Paulo, e já ouvi dizer que é a quarta cidade do Brasil com maior número de mineiros entre seus habitantes. E faz sentido, Campinas fica bem próxima da fronteira Sul de Minas.
Quem já conviveu com mineiros fora de Minas sabe que eles nunca deixam para trás sua terra completamente. Leva-se o sotaque, as expressões típicas, o gosto pelo queijo e pelo café coado, a habilidade de contar causos e, acima de tudo, o jeitinho desconfiado que logo se transforma em amizade sincera. Minas é, antes de tudo, um estado de espírito, e isso viaja junto com cada um que parte.
A motivação para sair varia. Jovens buscam universidades e novos desafios, profissionais se deslocam para centros econômicos mais dinâmicos, artistas encontram espaço em grandes cidades culturais. Mas o que muitos não percebem é que, ao partirem em busca de oportunidades, levam consigo outras tantas que já possuíam: a força do trabalho, a criatividade, a hospitalidade e um olhar único para o mundo. Minas não é um lugar de onde se foge, mas um celeiro de talentos que se expandem para além de suas montanhas, enriquecendo os lugares por onde passam.
Não por acaso, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília têm comunidades mineiras fortes e ativas. No exterior, mineiros se destacam nos mais diversos campos, levando a hospitalidade e a competência que são marcas registradas. Minas aprende com a vivência da diáspora, absorvendo novas influências, e, ao mesmo tempo, os lugares que recebem os mineiros se beneficiam da rica cultura da terra, facilmente reconhecida pelos filhos das montanhas e que conquista simpatia e admiração de quem não é mineiro. Seja na culinária, na música ou na moda, há sempre um toque especial que faz com que algo vindo de Minas seja único. No vestir, por exemplo, há um charme recatado, uma ousadia singela que equilibra tradição e modernidade. O bordado delicado, o corte impecável das peças, a valorização do feito à mão e a atenção aos detalhes fazem da moda mineira uma referência nacional e internacional, assim como tantas outras manifestações culturais do estado.
Mas Minas nunca deixa de ser lar. Quem vai, sempre volta, nem que seja em memória, nos sabores e nas músicas que trazem um pedaço das montanhas para onde quer que estejam. E talvez seja isso que faz da diáspora mineira tão especial: ela não é um abandono, mas uma expansão. Minas se espalha pelo mundo sem jamais se perder de si mesma.
E hoje, celebramos um novo capítulo dessa história. A parceria entre meu site e a revista Mundaréu surge como uma ponte entre os mineiros que partiram e aqueles que, de alguma forma, foram contagiados pela diáspora. Uma aliança que abre espaço para a cultura, a memória e a identidade mineira serem compartilhadas e ressignificadas, reunindo aqueles que encontram em Minas, mesmo à distância, um ponto de conexão. E, com esta nova relação, faço o caminho contrário e me aproximo dessas raízes que sempre me orgulharam tanto. Quem sabe, por meio dessa troca, possamos continuar espalhando as montanhas pelo mundo, sem jamais deixarmos de ser Minas.